terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Laurence Anyways (2012)




O filme narra à história de Laurence um homem que aos 35 anos de idade decidi assumir sua transexualidade e viver a readequação corporal.

A princípio a transformações de Laurence é aceita por parte de sua família, pelos colegas e alunos no trabalho e pela sua namorada. Os pilares de sua existência ainda se fazem presentes.

No entanto rapidamente é posto uma série de empecilhos que irão levar a Laurence a ter que reconstruir toda a sua vida, devido à incapacidade daqueles que estão ao seu redor de aceitar/entender sua condição, como diz o próprio Laurence “isto não é uma revolta, mas sim uma revolução”.

Quando ele é demitido por meio da solicitação do conselho de pais, que usa como argumento o fato da transexualidade ser classifica no DSM IV como uma doença mental, Laurence faz referência ao livro de Nietzsche: Ecce Homo, que parece ser uma alusão à “transvalorização de todos os valores”, que se refere a impossibilidade da moral em dizer o que é verdadeiro, que o homem tem que ser capaz de superar o que posto por ela.

Outro momento que Laurence diz sobre a transexualidade é ao conversar com Fred, onde cita:

“Vivi assim por 35 anos e isto é um crime
Eu sou um criminoso
Roubando a vida de uma pessoa ...
A vida da mulher que nasceu para ser”

Aqui ele coloca a impossibilidade de se manter naquele corpo masculino que nunca o pertenceu, que ele não se identifica e não tem mais o interesse em dizer que lhe pertence.
 
É interessante como o diretor vai apresentando o desejo de Laurence pela transformação corporal, que se inicia com o olhar ao reparar o comportamento feminino de suas alunas ao arrumar o cabelo, por exemplo. É que tal desejo tem vazão quando ele colocar clipes em suas mãos para que assemelhem a unhas grandes.

Toda sua modificação corporal durante o filme é lenta e passa por vários retrocessos em função de seu relacionamento com Fred, sua namorada.

Laurence e Fred no início do filme tem um relacionamento não - convencional, existe uma liberdade entre ambos que é incomum e por vezes excessiva. Após a decisão de Laurence em assumir sua identidade transexual o relacionamento se desfaz, mesmo que Fred a princípio anuncia aceitar a modificação, mas que ela não consegue sustentar está posição. O que irá gerar uma série de conflito em ambos.

O filme é bem focado na relação amorosa entre os dois. Na árdua tentativa de se manterem vinculados á uma relacionamento que há tempos, como conclui Laurence no término do filme, já estava falido.

Merlau Ponty diz que o amor verdadeiro se finda quando um dos amantes se modifica. Não é que o autor negue que possa existir mudança, dentro de um relacionamento sempre mudamos, mas existem algumas modificações que são insustentáveis. E no caso de Laurence e Fred, o processo transexualizador que não foi suportado.

O fato de apresentar os conflitos da transexualidade, sobretudo dentro da relação amorosa, parece às vezes confundir as personagens.  A genitália parece definir a identidade de gênero de Laurence, por isto no filme ele oscila frequentemente entre a masculinidade e feminilidade. Dado a resistência de Fred em aceitar a feminilidade de Laurence.

O filme tem quase três horas de duração, mas é muito envolvente não somente pela temática, mas pelos recursos simbólicos usados por Xavier Doran. 

Para sinopse do filme:  http://www.imdb.com/title/tt1650048/

sábado, 12 de janeiro de 2013

Marina Abramović: Artista Presente (2012)



O documentário retrata os bastidores da apresentação de Marina Abramović no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoNA) em 2010, bem como  todo o percurso de sua apresentação comentado por ela e outras pessoas importantes de sua vida, como o seu ex- marido Ulay.

Eu desconheço as expressões artísticas, então fiquei impressionada com a ideia de ter o corpo como instrumento e simultaneamente objeto da arte. Pensar que o autor é agente de intervenção diante dos seus espectadores é fantástico, ainda mais quando se trata de uma intervenção especular, como proposta por Marina em sua apresentação no MoNA.

Desde Freud “o olhar do outro” é de suma importância na construção da subjetividade é que Lacan irá desenvolver posteriormente em toda sua teoria psicanalítica.

Para a psicanálise lacaniana, a relação como olhar é o que permite a construção da subjetividade. A criança percebe a si mesmo como fragmentada, quando olha para si percebe a suas mãos, os pés, partes dos braços e etc, mas não consegue se perceber unificada como uma totalidade composta por todas estas partes.

 A representação unificada do eu só será possível pelo intermédio do outro, do olhar do outro. Esta relação será denominada como especular, onde o eu não pode existir sem o simbólico, ou seja, a referência do outro. O interessante é que existe uma alienação sujeito no eu que o move a buscar o outro.

O olhar de Mariana Abramovic não tem aqui a função especular no sentido lacaniano, mas como descrito por alguns daqueles que experenciaram a performance é uma possibilidade de olhar para si mesmo, de ter o olhar não como construção da minha subjetividade, mas como possibilidade do encontro com o eu. 

Como explica Ulay, a performance de Marina tem a característica de apresentar a inatividade e o silêncio que permitem retirar os sujeitos do dinamismo o qual o homem pós moderno é submetido. O encontro do olhar de Mariana com aqueles que ali fazem parte da performance é fixo e anula toda a turbulência envolta de ambos, não há palavras ou gestos, apenas a comunicação com o olhar.




domingo, 6 de janeiro de 2013

Depois das Aulas (2008)



O filme conta a história de Robert, aluno de uma expressiva escola norte americano que tem sua rotina abalada após presenciar a morte de duas alunas pela ingestão excessiva de cocaína.

A produção se inicia mostrando os conteúdos de vídeos que Robert tem o hábito de assistir através da internet. São sempre vídeos amadores que mostra situações reais de violência, além do conteúdo pornográfico marcado também pela agressividade contra as atrizes.

Quando Robert é chamado a vivenciar tanto a sexualidade quanto a violência em sua vida, isto gera uma série de problemas acarretados pela repressão que sofre diante da escola. Justamente por que sua vivência” foge” á regra.

Robert parece apresentar alguns traços de perversão, marcadamente na cena em que filma a morte das alunas na qual tem um prazer especular em rever a filmagem, bem como rememorar o evento. Além da personalidade antissocial e apatia generalizada, que é expressa em sua incapacidade de produzir um memorial dentro dos padrões cinematográficos exigidos, não pela ausência de técnica, mas pela insensibilidade diante do mundo.

Apesar da aparente obsessão pela situação a protagonista, tem controle e sabe demarcar isto como errado, tanto que não pode ser enunciado em nenhuma hipótese.

O filme parece decepcionar com a sua trama, por ser monótona, já que o percurso vivenciado por Robert parece incitar que sua agressividade latente será exteriorizada a todo o momento, o que de fato não acontece. 

Para sinopse do filme:http://www.imdb.com/title/tt1224366/